Após semanas de bombardeios e ameaças, conflito entra em suspensão instável; mercado internacional, diplomacia global e comunidades religiosas buscam recompor o cenário
A guerra entre Israel e Irã foi oficialmente suspensa após uma série de negociações multilaterais envolvendo ONU, Estados Unidos, Turquia, Qatar e União Europeia. O cessar-fogo, anunciado de forma simultânea pelas chancelarias de Teerã e Tel Aviv, encerra — ao menos por ora — um dos embates mais intensos entre os dois países nas últimas décadas. O saldo: dezenas de mortos, centenas de feridos, infraestrutura crítica danificada e uma reconfiguração diplomática em curso no Oriente Médio.
A trégua, no entanto, é considerada frágil por especialistas. O acordo não foi assinado diretamente entre os dois governos, mas articulado por canais diplomáticos paralelos, com mediação indireta de Moscou e Pequim. Não há, até o momento, uma comissão de verificação internacional formalizada. A desmobilização militar ainda não é total e há alertas de inteligência sobre movimentos de milícias aliadas ao Irã na Síria e no sul do Líbano.
“O conflito não terminou com um acordo de paz, mas com um silêncio tenso. Os objetivos estratégicos de ambos os lados seguem intactos, o que significa que a qualquer momento uma nova fagulha pode reacender os combates”, avalia a cientista política Luiza Paranhos.
Reações globais: alívio contido e disputas narrativas
Nos Estados Unidos, o governo Biden comemorou a suspensão dos ataques, mas reforçou o apoio a Israel em caso de novos avanços militares iranianos. Donald Trump, em discurso recente, acusou o atual presidente de ter sido “brando demais” com o Irã e afirmou que a trégua apenas adia um conflito maior.
A União Europeia enviou delegações a Teerã e Jerusalém para tentar restaurar canais de cooperação econômica e de inteligência. No Brasil, o Itamaraty voltou a defender uma “solução diplomática multilateral permanente” e reiterou apoio à criação de uma conferência regional sob os auspícios da ONU.
China e Rússia, que se aproximaram do Irã nos últimos anos, também se manifestaram. Pequim classificou a suspensão das hostilidades como “vitória da mediação oriental” e reafirmou a necessidade de um novo sistema internacional multipolar. Já o Kremlin pediu “respeito à soberania iraniana” e insinuou que o Ocidente “precisa rever seu papel nas crises do Oriente Médio”.
Mercado financeiro, petróleo e redes de suprimento
Com o fim dos bombardeios, o petróleo Brent recuou de US$ 106 para US$ 99, mas analistas seguem cautelosos. A possibilidade de novas sanções contra o Irã, ou sabotagens em rotas comerciais como o Estreito de Ormuz, ainda pressiona o mercado. O dólar permanece valorizado frente a moedas de países emergentes — no Brasil, fechou a R$ 5,63 — e o ouro teve alta de 7% nas últimas duas semanas, reflexo do aumento da procura por ativos considerados seguros.
Empresas do setor de turismo internacional, especialmente na Europa e no Brasil, tentam retomar rotas suspensas e reavaliar os custos de operação. Agências de remessas financeiras também enfrentaram instabilidade: o IOF cobrado sobre transferências internacionais subiu durante a crise, impactando brasileiros com familiares no exterior.
Fé e trauma: os ecos da guerra nas comunidades religiosas
O cessar-fogo trouxe alívio às comunidades religiosas em todo o mundo, mas não apagou as marcas emocionais do conflito. Em Tel Aviv e Teerã, cerimônias ecumênicas e momentos de silêncio marcaram os primeiros dias da trégua. No Brasil, igrejas evangélicas e católicas realizaram cultos de agradecimento pela paz, enquanto comunidades muçulmanas organizaram orações coletivas pedindo estabilidade na região sagrada.
“Não é apenas uma questão geopolítica. Estamos falando de lugares sagrados, símbolos espirituais e identidades milenares. A paz precisa vir acompanhada de escuta, verdade e reparação”, declarou o rabino Levi Mizrachi, em entrevista à imprensa brasileira.
Tocantins e o Brasil pós-guerra: redes sociais fervem e polarização persiste
No Tocantins, assim como em outras partes do país, o pós-guerra continua a mobilizar debates nas redes sociais. Enquanto grupos evangélicos seguem defendendo Israel como símbolo bíblico, ativistas de direitos humanos, organizações árabes e parte da intelectualidade denunciam a “violência geopolítica e religiosa contra povos do Oriente”. A polarização digital, alimentada por vídeos, postagens de líderes religiosos e influenciadores políticos, mostra que o conflito também deixa marcas no tecido cultural e ideológico brasileiro.
O que esperar agora?
A próxima fase do conflito será silenciosa, mas estratégica. Movimentos diplomáticos, realinhamentos militares e debates internos nos países envolvidos definirão os rumos do Oriente Médio nos próximos meses. Sem um pacto de longo prazo, o risco de novos embates permanece.
“O mundo assistiu a um episódio grave. Mas a paz, por enquanto, é apenas um intervalo entre duas guerras mal resolvidas”, conclui Luiza Paranhos.
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