O ataque coordenado do Irã contra alvos em Israel, ocorrido na madrugada do último sábado (13), provocou uma reação imediata com efeitos que ultrapassam os campos militares. O fechamento do espaço aéreo em ambos os países, aliado à escalada de tensão na região, afetou diretamente voos comerciais, itinerários turísticos e operações diplomáticas, inclusive brasileiras. A comitiva oficial do Tocantins, que estava em missão em Tel Aviv, relatou momentos de pânico com sirenes e refúgio emergencial em abrigos antiaéreos.
A ofensiva iraniana, considerada a maior contra Israel em décadas, foi uma retaliação aos ataques israelenses em território sírio e a bombardeios recentes sobre instalações militares em Teerã. Em resposta, o governo israelense suspendeu todos os voos comerciais por 48 horas e acionou o sistema de defesa antiaérea em nível máximo. O Irã, por sua vez, decretou a suspensão temporária de voos sobre diversas províncias, incluindo Teerã, Mashhad e Isfahan.
Voos cancelados e tráfego aéreo redirecionado
A primeira consequência prática do confronto foi o bloqueio de rotas aéreas internacionais sobre o Oriente Médio. Empresas aéreas da Europa e da Ásia passaram a evitar o espaço aéreo iraniano e israelense, redirecionando suas rotas por países vizinhos, como Turquia, Egito e Arábia Saudita. Com isso, voos com destino ao Leste Europeu, Ásia Central e Extremo Oriente registraram atrasos e aumento no tempo de voo.
A Turkish Airlines e a Emirates informaram que cancelaram ou reprogramaram mais de 60 voos em 24 horas. No Brasil, agências de turismo e operadoras de intercâmbio já relatam impacto direto.
— Pacotes para Jerusalém, Belém, Amã e Teerã foram todos suspensos. Há clientes com passagens para julho que agora estão pedindo reembolso ou remarcação para 2025 — afirmou Renata Arrais, diretora de uma agência de turismo especializada em roteiros religiosos.
Pânico e improviso na missão do Tocantins
Uma comitiva com representantes do governo do Tocantins, empresários e integrantes da área de segurança pública desembarcou em Israel no início da semana para participar de reuniões técnicas sobre inovação, agronegócio e defesa cibernética. No sábado, durante um jantar em Tel Aviv, o grupo ouviu as sirenes que alertam a aproximação de projéteis e foi orientado a seguir para um abrigo subterrâneo, de acordo com relatos à reportagem.
— As sirenes começaram a tocar e houve correria no restaurante. Fomos levados para um abrigo e ficamos lá por quase uma hora. O clima era de tensão, mas a embaixada nos deu todo suporte — relatou um dos integrantes da missão, sob reserva.
Com o fechamento do espaço aéreo israelense, a comitiva avalia sair por via terrestre até a Jordânia, de onde poderiam pegar voos para a Europa e, em seguida, retornar ao Brasil. O governo do estado emitiu nota dizendo que todos estão seguros e em contato com o Itamaraty.
Itamaraty monitora e reforça alerta diplomático
O Ministério das Relações Exteriores emitiu comunicado classificando a situação como “grave e volátil”, e recomendou que cidadãos brasileiros não viajem para Israel, Irã, Jordânia, Palestina, Líbano e Síria até segunda ordem. O Itamaraty também afirmou que acompanha atentamente os desdobramentos do ataque e que acionou o gabinete de crise em Tel Aviv e em Teerã.
Atualmente, cerca de 25 mil brasileiros vivem em Israel e outros 150 no Irã. As embaixadas mantêm contato com lideranças comunitárias e disponibilizaram canais emergenciais para pedidos de evacuação.
— É um momento delicado, pois a escalada de violência pode se expandir para outros países da região. O Brasil, como membro rotativo do Conselho de Segurança da ONU, deverá ser chamado a se posicionar nos próximos dias — afirma o embaixador aposentado André Amado, ex-secretário-geral do Itamaraty.
Especialistas apontam risco de escalada regional
Segundo pesquisadores do Instituto Igarapé e professores da UNB e UFRJ consultados pela reportagem, a natureza do ataque — com uso coordenado de drones, mísseis balísticos e envolvimento de grupos como Hezbollah e Houthis — indica um grau de sofisticação que não era visto desde a guerra do Líbano em 2006.
— A possibilidade de o conflito se estender para Síria, Líbano e eventualmente envolver tropas americanas no Golfo é real — afirma a professora Denilde Holzhacker, da ESPM. — Esse tipo de conflito pode não se transformar em uma guerra mundial tradicional, mas os efeitos econômicos e geopolíticos são profundos.
O Exército Brasileiro, por meio do Comando Militar do Planalto, também acompanha a movimentação no Oriente Médio com atenção, sobretudo pelo impacto em forças de paz da ONU com tropas brasileiras e pela segurança de brasileiros na região.
A ofensiva do Irã e a resposta israelense representam um novo ponto de inflexão na já instável geopolítica do Oriente Médio. As consequências imediatas vão muito além do front militar: atingem cadeias logísticas globais, afetam o turismo religioso, bloqueiam voos e exigem respostas rápidas dos governos. O Brasil, embora mantenha sua postura histórica de neutralidade, se vê cada vez mais envolvido — seja por suas comitivas, por seus cidadãos expatriados ou por seu papel diplomático.
Enquanto a guerra moderna se move com drones e diplomacia à distância, o mundo observa, mais uma vez, o epicentro da instabilidade global voltar ao mesmo ponto: o céu de Jerusalém.
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