A ofensiva lançada pelos Estados Unidos contra três instalações nucleares subterrâneas no Irã, na madrugada do último sábado (22), revelou não apenas o alcance militar americano, mas também provocou uma reconfiguração de forças no tabuleiro geopolítico internacional. A operação utilizou bombas do tipo bunker buster e mísseis de cruzeiro Tomahawk, em uma ação coordenada com Israel e apoiada por forças navais posicionadas no Golfo Pérsico.
Segundo informações confirmadas pelo Departamento de Defesa dos EUA, foram empregadas bombas GBU-57 Massive Ordnance Penetrator (MOP) — com capacidade para perfurar até 60 metros de rocha e concreto reforçado — e GBU-28, além de mísseis Tomahawk, disparados de navios da Marinha norte-americana. Os alvos principais foram as usinas de Fordow, Natanz e Isfahan, consideradas estratégicas para o programa nuclear iraniano.
O uso da GBU-57 representa a primeira aplicação prática desse armamento em combate real. Com peso superior a 13 toneladas, as bombas foram lançadas a partir de bombardeiros furtivos B-2 Spirit, capazes de voar sem detecção por radares.
Poderio iraniano e ameaças de retaliação
O Irã, por sua vez, demonstrou que ainda possui considerável capacidade bélica. Entre seus principais recursos estão os mísseis de médio e longo alcance da série Shahab, os mísseis balísticos Ghadr e Emad, e drones kamikaze da linha Shahed, já utilizados em conflitos anteriores na Síria, no Iêmen e na Ucrânia. Estimativas apontam que o país mantém um arsenal de mais de 3 mil drones operacionais e ao menos mil mísseis balísticos táticos.
O governo iraniano prometeu retaliação “em todas as frentes” e já lançou ofensivas contra bases americanas no Catar e no norte do Iraque. Em pronunciamento oficial, o presidente Ebrahim Raisi alertou para a possibilidade de bloquear o Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 20% do petróleo mundial.
Risco de novas alianças militares
Com o aumento das tensões, observadores internacionais acompanham com cautela a aproximação estratégica entre Irã, Rússia e Coreia do Norte. Embora não exista, até o momento, uma aliança militar formal entre os três países, há sinais evidentes de cooperação técnica e de inteligência, principalmente no desenvolvimento de mísseis e drones.
A Rússia já fornece apoio diplomático e sistemas de radar ao Irã, além de manter acordos de cooperação em defesa cibernética. A Coreia do Norte é considerada uma das principais fornecedoras de tecnologia para os sistemas de mísseis iranianos. Recentemente, autoridades norte-coreanas declararam apoio público à “autodefesa legítima do Irã”.
Especialistas em segurança internacional alertam que a crise pode acelerar o surgimento de novos blocos militares não formais, baseados em interesses comuns de resistência à influência ocidental.
E o Brasil?
O governo brasileiro acompanha os desdobramentos com atenção. Em nota oficial, o Itamaraty classificou o ataque norte-americano como “incompatível com os princípios da Carta das Nações Unidas” e defendeu a retomada imediata do diálogo multilateral. Técnicos do governo federal avaliam possíveis impactos econômicos e diplomáticos da crise.
Entre as preocupações estão:
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O aumento do preço do petróleo, com impacto direto no valor dos combustíveis;
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A alta nos custos dos fertilizantes e insumos agrícolas;
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A pressão sobre as exportações brasileiras e sobre a inflação interna.
O país também poderá ser chamado a se posicionar em fóruns internacionais como o Conselho de Segurança da ONU, a Celac e os BRICS. Segundo analistas, o Brasil deverá manter uma postura equilibrada, sem alinhamentos automáticos, mas atento às suas parcerias comerciais e estratégicas.
— O Brasil precisará reforçar sua posição de defensor do multilateralismo, mas sem comprometer os canais com os grandes fornecedores globais de energia e tecnologia — avalia um especialista ouvido pela reportagem, em condição de anonimato.
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