Cessar-fogo mediado pelo Catar entra em vigor após bombardeios israelenses, resposta iraniana e intervenção dos Estados Unidos; analistas apontam “vitória tática” de Tel Aviv, mas instabilidade regional persiste
A guerra entre Irã e Israel, deflagrada em 13 de junho após uma série de ataques coordenados por Tel Aviv contra instalações nucleares e militares iranianas, chegou ao fim na madrugada desta segunda-feira (24), após um cessar-fogo costurado pelo Catar com intermediação direta dos Estados Unidos. O anúncio foi feito por Donald Trump, que reassumiu protagonismo diplomático no Oriente Médio. O conflito, que durou 12 dias, deixou ao menos 610 mortos no Irã, 28 em Israel e causou severas repercussões econômicas e políticas na região.
O cessar-fogo entrou em vigor em dois horários distintos: o Irã interrompeu as hostilidades às 4h da manhã (horário local), enquanto Israel cessou os ataques às 8h30. Apesar da trégua, foram registradas violações nas primeiras horas do acordo. Um míssil lançado do território iraniano atingiu a cidade israelense de Beersheba, matando quatro civis. Em resposta, Israel bombardeou uma base de radar em Babolsar, na costa iraniana do Mar Cáspio.
Segundo o governo israelense, a ofensiva teve como objetivo interromper de forma “cirúrgica e decisiva” o programa nuclear iraniano. “Eliminamos a infraestrutura crítica de três centros nucleares e incapacitamos o sistema de mísseis de curto e médio alcance”, disse o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em pronunciamento. A avaliação da inteligência americana, no entanto, é mais cautelosa: os ataques teriam atrasado o avanço nuclear do Irã em “três a cinco meses”, mas não o desmantelaram por completo.
Ataques, retaliações e danos humanos
A operação militar israelense, chamada Rising Lion, foi iniciada com ataques simultâneos a alvos estratégicos em Natanz, Fordow e Arak — áreas conhecidas por abrigarem instalações de enriquecimento de urânio. Além disso, o Mossad foi apontado como responsável por uma série de atos de sabotagem dentro do território iraniano.
Em resposta, o Irã lançou cerca de 150 mísseis e mais de 100 drones contra cidades israelenses. A maioria dos projéteis foi interceptada pelo sistema antimísseis Iron Dome, mas ao menos 28 israelenses morreram, a maioria em regiões do sul do país. Houve também ações coordenadas por milícias aliadas a Teerã, como o Hezbollah no Líbano e os Houthis no Iêmen.
A ofensiva aérea deixou um rastro de destruição no Irã. Imagens de satélite analisadas por instituições independentes mostram que parte das estruturas subterrâneas de Natanz foram destruídas. Já em Arak, a usina de produção de plutônio foi severamente danificada. Fontes iranianas relataram a morte de 610 pessoas, entre civis e militares.
Papel dos EUA e reação internacional
O ponto de inflexão do conflito foi a entrada dos Estados Unidos, que no dia 22 de junho lançaram uma ofensiva conjunta com Israel. A operação, batizada de Midnight Hammer, envolveu bombardeios com aviões B-2 e mísseis Tomahawk. A justificativa da Casa Branca foi conter o risco de escalada regional e impedir que Teerã alcançasse capacidade nuclear plena.
O ex-presidente Donald Trump, que reassumiu influência nos bastidores da política externa, anunciou a trégua pelo X (antigo Twitter). “É um novo dia no Oriente Médio. As armas silenciaram porque a diplomacia falou alto”, publicou.
O anúncio provocou alívio momentâneo nos mercados internacionais. O preço do barril do petróleo caiu 7% em Londres e 9% em Nova York, enquanto as bolsas da Ásia e Europa fecharam em alta. Analistas, no entanto, consideram os efeitos como pontuais e alertam para o risco de novos choques geopolíticos.
Reações em Teerã e Tel Aviv
O governo iraniano, por sua vez, tratou a trégua como “uma vitória da resistência” e afirmou que continuará defendendo seu programa nuclear como “direito soberano”. Em pronunciamento à televisão estatal, o presidente Masoud Pezeshkian disse que o Irã “respondeu à altura” e “manteve a integridade nacional diante de uma agressão sem precedentes”.
Em Israel, o gabinete de guerra convocado por Netanyahu comemorou o resultado da operação como “um êxito militar e diplomático”, mas reconheceu que a atenção agora se volta novamente para Gaza. O premiê reforçou que o Irã continua sendo “a maior ameaça existencial do povo judeu” e que novas ações preventivas podem ser adotadas “caso se comprovem novos riscos”.
Conflito sem resolução
Embora o cessar-fogo esteja em vigor, especialistas em segurança internacional classificam o desfecho como uma pausa estratégica, e não um acordo de paz. Não houve assinatura formal entre as partes, nem previsão de retomada das negociações nucleares com os Estados Unidos, interrompidas desde 2022.
“O que vimos foi uma vitória tática de Israel e um recuo calculado do Irã”, analisa Rami Dagan, pesquisador do Instituto de Estudos de Defesa de Tel Aviv. “Mas os problemas estruturais que alimentam o conflito seguem intactos. A ausência de um canal diplomático robusto torna a trégua frágil.”
Próximos capítulos
Enquanto o mundo celebra o fim dos bombardeios, permanece a dúvida: quanto tempo durará essa trégua? A guerra de 12 dias já entrou para a história como o mais direto confronto entre Irã e Israel. Mas a ausência de garantias internacionais, somada à continuidade dos programas militares de ambas as nações, aponta que a paz — se é que virá — ainda depende de muitas páginas a serem escritas.
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