Especialistas associam avanço da condição a hábitos alimentares inadequados e sedentarismo; dados do SUS apontam tendência nacional em alta
O número de pacientes com hemorroidas tem aumentado nos serviços de saúde pública do Tocantins, acompanhando uma tendência nacional que preocupa especialistas e sobrecarrega unidades básicas e ambulatoriais. Dados preliminares do Sistema Único de Saúde (SUS) indicam um crescimento expressivo nas consultas e procedimentos relacionados à doença nos últimos três anos, com foco em populações urbanas e faixas etárias entre 30 e 55 anos.
De acordo com o Datasus, o estado registrou mais de 2.800 atendimentos ambulatoriais por complicações hemorroidárias em 2024, alta de 19% em relação ao ano anterior. Em 2022, esse número era de 1.960. Embora o tratamento seja, na maioria dos casos, clínico e não invasivo, a demora em procurar ajuda leva a quadros agravados, demandando cirurgias ou intervenções mais complexas.
Má alimentação e rotina sedentária elevam riscos
Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, a elevação dos casos está diretamente relacionada à combinação de má alimentação, falta de atividade física regular e hábitos como o uso prolongado de telas e celulares – que impactam o tempo de permanência sentado e o funcionamento intestinal.
“A população está cada vez mais sedentária e consome menos fibras, o que compromete o trânsito intestinal e aumenta a pressão na região anal. Isso favorece o aparecimento e agravamento das hemorroidas”, explica o proctologista André Matos, professor da UFT e membro da Sociedade Brasileira de Coloproctologia.
De acordo com Matos, a baixa ingestão de água e o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados também contribuem para o quadro. “Os sintomas iniciais, como sangramento ao evacuar e dor, costumam ser ignorados. Quando o paciente chega ao consultório, muitas vezes a única alternativa é cirúrgica”, diz.
Fila para proctologistas e desafios no SUS
A procura por especialistas na rede pública cresceu significativamente. No Hospital Geral de Palmas (HGP), principal referência em proctologia no estado, a fila para atendimento chega a até quatro meses, segundo apuração da reportagem. Em municípios do interior, a situação é mais crítica, com ausência de profissionais habilitados e deslocamentos para regiões maiores.
“A demanda é alta e cresce mais do que a oferta. A maior parte dos casos poderia ser evitada com acompanhamento básico, mas há uma falha na atenção primária e na orientação preventiva”, afirma a médica Vanessa Rocha, proctologista do HGP.
Além das consultas, os números de procedimentos cirúrgicos também subiram. Entre janeiro e abril de 2025, o Tocantins realizou 287 hemorroidectomias pelo SUS – um aumento de 27% em relação ao mesmo período de 2024.
Educação em saúde é gargalo
Especialistas alertam que o tabu em torno do tema ainda é um entrave para diagnóstico precoce e prevenção eficaz. Segundo levantamento do Ministério da Saúde, 53% dos brasileiros evitam buscar ajuda médica para sintomas proctológicos por constrangimento.
“O medo do exame e o preconceito cultural atrasam o cuidado. A hemorroida ainda é vista com vergonha, o que adia o tratamento e agrava o sofrimento dos pacientes”, afirma Vanessa.
Campanhas de educação em saúde e mudanças nos hábitos alimentares são apontadas como as medidas mais efetivas para conter a escalada de casos. O consumo diário recomendado de fibras é de 25 a 30 gramas, mas apenas 12% da população brasileira atinge essa meta, segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF/IBGE).
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