Com 242 pessoas a bordo, voo AI171 caiu segundos após decolar de Ahmedabad; única sobrevivente estava próxima à saída de emergência. Trem de pouso não foi recolhido, e especialistas apontam falha operacional ou mecânica.
Pela primeira vez desde que começou a operar há 14 anos, o Boeing 787 Dreamliner esteve no centro de uma tragédia fatal. O voo AI171 da Air India, que fazia a rota Ahmedabad–Londres, caiu nesta quarta-feira (12), segundos após a decolagem, deixando ao menos 241 mortos e apenas um sobrevivente.
A aeronave, um 787‑8 com 11 anos de uso, decolou às 13h38 (horário local) do Aeroporto Internacional Sardar Vallabhbhai Patel e perdeu altitude ainda na fase inicial de subida. Segundo informações confirmadas pelas autoridades indianas e britânicas, o avião atingiu o prédio de um hostel universitário próximo ao campus do B.J. Medical College, no bairro de Meghani Nagar, área densamente habitada da capital do estado de Gujarat.
Passageiros e nacionalidades
Estavam a bordo 230 passageiros e 12 tripulantes. De acordo com o Ministério da Aviação indiano, entre os viajantes havia 169 indianos, 53 britânicos, sete portugueses e um canadense. Até o fechamento desta edição, mais de 200 corpos haviam sido recuperados, e equipes de resgate continuavam vasculhando escombros entre destroços em chamas.
O único sobrevivente é Vishwash Kumar Ramesh, cidadão britânico de origem indiana, que ocupava a poltrona 11A. Ele conseguiu escapar pelos próprios meios após o impacto. “Foi como um relâmpago. Eu apenas pulei quando senti que algo estava errado”, relatou Ramesh, ainda em estado de choque, ao canal indiano NDTV.
Investigação: o que deu errado
De acordo com fontes da Direção Geral de Aviação Civil da Índia (DGCA), as gravações preliminares da torre de controle e dados de radar apontam que o Boeing permaneceu com o trem de pouso estendido durante os 32 segundos em que permaneceu no ar. Isso contradiz procedimentos padrão de subida e pode ter afetado a performance aerodinâmica da aeronave.
“O trem de pouso abaixado representa um arrasto significativo, e caso os flaps tenham sido recolhidos antes da hora, o avião poderia ter perdido sustentação”, explica o comandante Rodrigo Sampaio, piloto de linha aérea e instrutor técnico consultado pelo Diário Tocantinense. “A conjugação desses fatores pode indicar erro humano, falha técnica ou uma sequência incompleta de checklist.”
O gravador de dados de voo (FDR) e o gravador de voz da cabine (CVR) foram recuperados e enviados para análise em Nova Délhi. A investigação será liderada pela DGCA em parceria com o AAIB britânico e o NTSB, dos Estados Unidos — país de fabricação do avião.
Histórico e impacto
Este é o primeiro acidente fatal com o modelo 787 Dreamliner, introduzido no mercado pela Boeing em 2011 como sua aeronave de longo alcance mais avançada. Desde então, mais de 1,3 mil unidades foram entregues e o modelo acumulava um histórico de segurança considerado exemplar.
A queda do AI171 marca também o pior desastre aéreo na Índia desde 1996, quando dois aviões colidiram no ar sobre Charkhi Dadri, matando 349 pessoas. Em termos mundiais, é o mais grave acidente com uma única aeronave comercial desde o desastre do voo Lion Air 610 (2018), com 189 mortos.
Repercussão internacional
Líderes de diversos países manifestaram pesar. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, afirmou estar “profundamente abalado” com a tragédia. O rei Charles III foi informado pessoalmente pelo gabinete do Ministério das Relações Exteriores. O presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, confirmou luto oficial pelas sete vítimas do país.
A Boeing divulgou nota oficial dizendo “lamentar profundamente” o ocorrido e que está colaborando com as investigações. “Estamos enviando uma equipe técnica para apoiar as autoridades locais e clientes envolvidos”, disse a fabricante norte-americana.
Medidas de emergência e assistência
A Air India confirmou o envio de aeronaves de suporte às famílias e ativou um centro de atendimento aos parentes das vítimas em Nova Délhi e Londres. A companhia também anunciou o cancelamento de todos os voos da frota 787‑8 até a conclusão de inspeções preventivas.
A Embaixada do Brasil em Londres informou que, até o momento, não há confirmação de brasileiros a bordo.
Especialistas pedem revisão global de protocolos
Embora o histórico do 787 Dreamliner seja positivo, especialistas em aviação alertam que a pressão por rotas longas e econômicas pode levar a falhas operacionais não percebidas em voos de alta complexidade.
“O 787 é uma máquina segura, mas acidentes assim demonstram que mesmo tecnologias de ponta podem falhar quando há falha humana, omissão ou problema sistêmico”, alerta Sampaio.
Atualizações
O Diário Tocantinense acompanha em tempo real a apuração da causa da queda, a análise da caixa-preta e as reações do setor aéreo mundial.
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