Os ataques militares de Israel ao território iraniano e a resposta de Teerã com mísseis e drones lançados sobre cidades israelenses marcaram um dos momentos mais tensos no Oriente Médio desde a Guerra do Yom Kippur. Com o apoio militar direto dos Estados Unidos a Israel e o envolvimento crescente de grupos aliados do Irã, como Hezbollah e Hamas, o cenário caminha para um ponto de inflexão. Analistas avaliam que a escalada pode romper as fronteiras regionais e envolver potências como China e Rússia.
No centro desse novo capítulo do conflito, está o avanço militar de Israel sobre bases estratégicas iranianas, incluindo centros de comando da Guarda Revolucionária e áreas ligadas ao programa nuclear. A ofensiva foi respondida por Teerã com uma onda de mais de 300 mísseis e drones, alguns interceptados pelo sistema de defesa israelense e por baterias antiaéreas dos EUA no Golfo Pérsico.
Poderio militar em confronto
O Irã ocupa a 14ª posição entre as potências militares globais, segundo o índice Global Firepower, enquanto Israel figura na 18ª colocação. A vantagem israelense está na superioridade tecnológica — com caças F-35, sistemas de defesa como o Domo de Ferro e mísseis de precisão — além do respaldo logístico norte-americano. O Irã, por sua vez, aposta na guerra assimétrica, no número de efetivos e em uma rede regional formada por milícias como Hezbollah, Hamas, Houthis e forças xiitas no Iraque e na Síria.
“Não há interesse imediato do Irã em uma guerra total. A retaliação é medida, calculada para manter prestígio regional e dissuadir novas ações”, explica Lourival Sant’Anna, especialista em segurança internacional. “Mas Israel opera com uma doutrina de ofensiva total. A escalada depende de um erro de cálculo.”
Risco de alastramento
Professores da PUC-SP e da UFRJ consultados pela reportagem apontam que o conflito atual ultrapassa o patamar de tensões pontuais. A movimentação de navios de guerra dos EUA no Mediterrâneo e no Mar da Arábia, o reforço da presença da OTAN em bases no Oriente Médio e o posicionamento do Hezbollah ao norte de Israel são indicadores claros de que o conflito pode envolver múltiplos frontes.
“O que se desenha não é uma guerra convencional, mas uma série de choques controlados em várias frentes. A guerra moderna é feita com drones, ciberataques e milícias”, afirma a professora Maria Clara Farias, da UFRJ. “A grande incógnita é o papel da Rússia e da China, que observam em silêncio e podem explorar a crise.”
O Brasil e o papel do Itamaraty
O Ministério das Relações Exteriores brasileiro divulgou nota oficial na qual manifesta “grave preocupação com a escalada de violência” e condena “qualquer ato que ameace a estabilidade regional e a segurança internacional”. A chancelaria também reiterou a importância de preservar o multilateralismo, destacando o papel da ONU como instância de resolução pacífica de conflitos.
Internamente, diplomatas veem com cautela a pressão por um posicionamento mais contundente. O Brasil, que historicamente atua como mediador nos fóruns multilaterais, mantém sua tradição de neutralidade e aposta na diplomacia como saída. Contudo, fontes do Itamaraty reconhecem que, em caso de envolvimento direto dos EUA e de seus aliados da OTAN, o país poderá ser chamado a se posicionar no Conselho de Segurança da ONU.
“O Brasil não tem poder bélico para interferir no conflito, mas tem capital diplomático e legitimidade para propor soluções. O risco de uma guerra regional com efeitos globais exige protagonismo do Sul Global”, afirma Denilde Holzhacker, cientista política e especialista em relações internacionais.
Impacto global e instabilidade
A tensão no Oriente Médio já provoca efeitos econômicos concretos: o preço do barril de petróleo subiu 7% na última semana, impactando o câmbio e o custo de combustíveis em diversos países. A volatilidade nos mercados de energia e alimentos acende sinal de alerta em países em desenvolvimento, inclusive no Brasil.
Além disso, cerca de 25 mil brasileiros vivem atualmente em Israel e outros 150 no Irã. O Itamaraty monitora a situação e montou um gabinete de crise para apoiar possíveis operações de evacuação.
O confronto entre Israel e Irã escancara os limites da dissuasão militar e testa a resiliência das redes diplomáticas globais. Em um mundo onde a guerra moderna é feita com inteligência artificial, mísseis de longo alcance e alianças voláteis, a posição do Brasil — entre a neutralidade e o chamado à paz — pode ser decisiva.
Enquanto caças cruzam o céu de Tel Aviv e Teerã responde com promessas de vingança, o planeta assiste, mais uma vez, ao frágil equilíbrio do século XXI se desfazer diante do caos.
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