A visita do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta semana reacendeu a tensão entre o líder da oposição e a mais alta Corte do país. O encontro, embora registrado como formal e cordial, ocorre em um momento delicado: às vésperas da abertura do calendário eleitoral de 2026 e com Bolsonaro ainda inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A ida ao STF, confirmada por interlocutores próximos ao ex-presidente, teria tido como objetivo reafirmar seu respeito às instituições e buscar um reposicionamento diante de recentes embates com o Judiciário. A visita foi protocolar, com cumprimentos a ministros e assessores, mas não houve registros oficiais de conversas privadas ou coletivas com os magistrados.
Relação marcada por atritos
A relação entre Bolsonaro e o STF é historicamente tensa. Durante seu mandato (2019-2022), o então presidente criticou publicamente ministros da Corte, questionou decisões, incentivou ataques nas redes sociais e chegou a convocar manifestações em que defendia o fechamento do Supremo. O ápice do embate ocorreu em 2021, quando Bolsonaro afirmou que não mais respeitaria decisões do ministro Alexandre de Moraes — um dos principais alvos de sua base.
Desde então, mesmo fora do cargo, Bolsonaro seguiu criticando o Judiciário. Em declarações recentes, afirmou que o STF estaria “desequilibrando o jogo político” e acusou a Corte de atuar em favor do presidente Lula, sobretudo em julgamentos que envolvem a regulação das plataformas digitais.
Reações nos bastidores
Nos bastidores do Supremo, a visita foi recebida com cautela. Ministros ouvidos reservadamente por veículos da imprensa nacional classificaram a ida do ex-presidente como uma tentativa de sinalização política, sem efeitos concretos no ambiente institucional. Houve quem avaliasse o gesto como um movimento para reforçar seu protagonismo na cena política e buscar normalizar relações com o Judiciário, num contexto de avanço de investigações que o envolvem.
Alguns ministros demonstraram desconforto diante da aproximação de Bolsonaro, especialmente após meses de acusações públicas feitas por ele e aliados sobre suposta atuação política da Corte. No entanto, a maioria preferiu não se pronunciar oficialmente.
Estratégia de 2026 em curso
Mesmo inelegível até 2030, Bolsonaro trabalha para manter sua influência sobre a direita e sobre a eleição de 2026. Sua estratégia tem se concentrado na mobilização de sua base, no fortalecimento de nomes de confiança no Congresso e no incentivo à eleição de senadores e governadores alinhados ao seu projeto político.
Internamente, dirigentes do PL já planejam lançar um candidato à Presidência com o apoio direto de Bolsonaro. Entre os nomes cotados estão o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema. Ambos têm mantido distância estratégica de embates com o Judiciário.
Analistas políticos avaliam que a visita ao STF é parte de uma tentativa de recompor a imagem institucional de Bolsonaro e antecipar seu papel de articulador político nas eleições municipais de 2024 e nacionais de 2026. A ideia seria reposicionar-se como figura central da direita, mesmo sem candidatura.
O impacto sobre Lula
Do lado do governo, aliados de Lula viram a visita como mais um gesto da escalada política de Bolsonaro. Integrantes do Planalto evitam comentários públicos, mas nos bastidores há a percepção de que o ex-presidente busca criar uma narrativa de suposta perseguição judicial para mobilizar sua base. Lula, por sua vez, tem mantido foco em articulações internacionais e medidas econômicas, evitando confronto direto com o ex-adversário.
O governo teme que a tensão entre Judiciário e bolsonarismo possa reacender uma crise institucional similar à de 2021. Por isso, monitora atentamente os desdobramentos de qualquer sinalização pública envolvendo o STF e a oposição.
Conclusão
A visita de Jair Bolsonaro ao STF é simbólica. Marca a tentativa do ex-presidente de sinalizar disposição ao diálogo institucional ao mesmo tempo em que reforça sua narrativa de embate com o Judiciário. Para muitos ministros da Corte, o gesto não altera o histórico de ataques e desinformação. Para Bolsonaro, é mais um passo estratégico em sua atuação como líder da oposição, ainda que fora da disputa direta.
O cenário segue marcado por polarização e tensão entre os poderes. E, mesmo a mais de um ano do início oficial da campanha, a disputa por 2026 já influencia os movimentos no presente.
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