Por Fernanda Cappellesso*
Na tarde em que o Oriente Médio voltava a arder, com foguetes cruzando fronteiras e nações inteiras suspendendo voos e acordos, uma música foi lançada no Brasil. Não era sobre política, nem sobre geopolítica. Era sobre toque. Sobre olhar. Sobre presença. Sobre o que nos torna humanos.
A coincidência de datas me chamou atenção não como curiosidade, mas como contraste brutal: no mesmo dia em que Israel e Irã protagonizavam mais um capítulo sangrento da história, a música Reconectar chegava às plataformas digitais. Interpretada por Marcelo Martins — conhecido pelos hits que marcaram gerações como Eu Quero Tchu, Eu quero Tcha; Louca Louquinha e Joga o Copo Alto — a canção traz uma proposta radical para os tempos atuais: que voltemos a nos reconectar com o essencial.
A composição é assinada por Priscila Barucci e Mauro Sérgio, dois autores que, mesmo distantes dos gabinetes de poder, conseguiram traduzir com precisão o que falta à diplomacia mundial: humanidade.
Em tempos de horror geopolítico, quando o mundo volta a discutir guerra como se fosse inevitável, Reconectar soa quase como um manifesto de resistência afetiva. E me atrevo a dizer: talvez não exista arma mais potente que uma canção honesta. Porque ela atravessa o que bombas não tocam — a consciência.
A letra fala sobre voltar o olhar para o outro. Fala sobre toque, silêncio e presença. Palavras simples, mas que confrontam diretamente as razões que alimentam tantos conflitos: vaidade, orgulho, vingança, sede de domínio.
Não é sobre inocência. É sobre lucidez.
É sobre perceber que talvez o Oriente Médio — e o Ocidente também — não precise de mais poder, de mais líderes inflamados, de mais discursos grandiosos. Precisa de reconexão. Precisa de amor. De escuta. De alguma forma de pausa. De uma canção, quem sabe.
E não, Reconectar não foi escrita como resposta ao conflito. Ela nasceu antes. Mas talvez por isso mesmo tenha o peso que tem: porque anuncia o que já estava ausente. Porque chega com o timing de quem pressente a urgência.
Eu, que sou jornalista e também publicitária, vejo em Reconectar uma peça rara: ela é música, mas também é mensagem. Ela é melodia, mas também é posicionamento. Ela fala de amor — e isso, hoje, parece uma ousadia política.
Não sei o que vai acontecer nas próximas semanas. Mas sei o que desejo: que, entre uma manchete e outra, a gente permita que músicas como essa nos encontrem. Que a gente lembre que antes de sermos nações, exércitos ou algoritmos, somos gente. E gente, quando sente, muda o curso da história.
Ouça Reconectar
*Fernanda Cappellesso é jornalista e publicitária formada, mestre em marketing eleitoral e político, com especialização em marketing digital. Atua na produção de conteúdo, social media e análise de cenários políticos e culturais. É especialista em transformar temas complexos em narrativas acessíveis, aliando apuro jornalístico e olhar estratégico para provocar reflexões profundas no leitor.
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