Pastor Carlos Eduardo deve assumir com ajustes estratégicos. Licitação milionária é criticada por erros técnicos e republicação. Eduardo Garcia atua informalmente, Gabriela Siqueira concentra poder e acumula desgaste com ex-aliados.
Palmas (TO) – A prisão preventiva de Eduardo Siqueira Campos, decretada na última sexta-feira (27) por decisão do ministro Cristiano Zanin, aprofundou as tensões dentro da Prefeitura de Palmas e expôs uma gestão marcada por disputas de poder, fragilidade técnica e influência de bastidores. A condução interina do Executivo deve ser assumida nos próximos dias pelo vice-prefeito, Pastor Carlos Eduardo, que, segundo fontes palacianas próximas ao prefeito que procuraram o Diário Tocantinense nesta sexta-feira, deve fazer uma série de mudanças na máquina administrativa, caso Eduardo nao consiga reverter a decisão do STF. E essa possibilidade, assusta os aliados do prefeito preso.
Nos bastidores, aliados avaliam que o novo comando deve representar uma ruptura parcial com o núcleo político que cercava Eduardo Siqueira, em especial nos setores ligados à comunicação institucional e à publicidade oficial — justamente os mais pressionados pela crise deflagrada após a operação da Polícia Federal. Isso porque, segundo as fontes das quais o Diário Tocantinense teve acesso, uma crise já havia sido instaurada no setor ligado a comunicação desde o início da gestão Eduardo Siqueira Campos, principalmente no que diz respeito a agencias de propaganda e prestadores de serviço.
Licitação marcada por erros técnicos e republicação
A licitação da publicidade institucional da Prefeitura, com valor milionário, tornou-se o símbolo de um processo administrativo marcado por desorganização e improviso. O edital foi publicado com erros e precisou ser republicado após apontamentos técnicos sobre exigências irregulares e inconsistências nos critérios de habilitação.
A republicação ocorreu em meio a críticas internas e aumentou o desgaste do secretário de Comunicação, Elcio Mendes, cuja permanência no cargo é considerada insustentável. Segundo fontes do Diário Tocantinense, grupos próximos a Eduardo já até indicaram outros nomes como Joao Neto Aguiar, que já foi secretário de comunicação na gestão Marcelo Miranda e este próximo de Eduardo na campanha eleitoral, graças ao grupo de Kátia Abreu; Vieira de Melo, que foi secretário de Comunicação de José Wilson Siqueira Campos e é uma pessoa muito bem vista no núcleo siqueirista; até o nome da deputada estadual Cláudia Lelis (PV) que já foi secretaria de Comunicação de Palmas teria sido cotado, mas ela teria negado imediatamente. Embora Mendes ocupe formalmente a pasta, interlocutores afirmam que nunca teve o respaldo do núcleo mais próximo ao ex-prefeito. Com a prisão de Eduardo e a iminente posse do vice, sua substituição é tratada como questão de tempo.
A licitação também gerou suspeitas de direcionamento, embora sem provas formais até o momento. Uma denúncia sigilosa foi encaminhada ao CENP (Conselho Executivo das Normas-Padrão), questionando a atuação da agência Ginga Propaganda Ltda., ligada a campanhas anteriores do ex-prefeito.
Influência informal e redes paralelas de decisão
A crise tornou mais visível o papel de figuras sem nomeação formal, mas com forte capacidade de interferência nos rumos da comunicação da Prefeitura. Um dos nomes mais citados nos bastidores é o do publicitário Eduardo Garcia, que atuou ma mobilização da campanha de Eduardo Siqueira em 2024. Embora não tenha cargo oficial, Garcia mantém acesso direto à estrutura de comunicação, circula em reuniões internas, tem interlocução com fornecedores e servidores e acesso direto ao prefeito Eduardo Siqueira Campos.
Garcia é casado com Ana Carolina dos Anjos Raposo Garcia, sócia da Kalango (A C dos Anjos Raposo Garcia LTDA), empresa registrada como agência de publicidade. Embora não haja vínculo formal entre a empresa e a campanha de Eduardo, a relação entre Garcia e o núcleo decisório da Prefeitura levanta dúvidas sobre eventuais interferências indiretas no planejamento e execução das ações de publicidade oficial.
Gabriela Siqueira Campos: poder concentrado e desgaste político
Outro nome central nesse enredo é o de Gabriela Siqueira Campos, filha do ex-prefeito. Apesar de ser secretária municipal de Bem-Estar Animal, Gabriela exerce influência direta sobre a comunicação institucional. Foi ela quem coordenou o marketing digital da campanha vitoriosa de 2024 e, segundo aliados, é considerada por Eduardo como peça-chave da vitória eleitoral.
Mesmo sem estar formalmente vinculada à comunicação, Gabriela atua diretamente na definição de conteúdo, linguagem e estratégias de imagem da Prefeitura. Esse protagonismo vem sendo criticado internamente, sobretudo pela concentração de poder em duas áreas distintas sem respaldo administrativo claro e da qual ela nao tem formação e nem conhecimento técnico. Gabriela é médica.
Após dias de tensão, o embate entre Gabriela Siqueira Campos e Cinthia Ribeiro ganhou ares públicos, elevando o clima de crise dentro da administração de Palmas. Gabriela esteve ausente das atividades oficiais por algumas semanas e, ao retornar, acusou a gestão anterior de entregar a cidade completamente endividada. “A Prefeitura foi entregue em frangalhos, sem condições financeiras sequer para cumprir compromissos mínimos”, declarou, em críticas severas às finanças municipais.
A declaração, compartilhada em redes sociais, provocou resposta imediata de Cinthia Ribeiro. A ex-prefeita rebateu afirmando que cumpriu sua missão com responsabilidade e que é “inaceitável” tentar atribuir um colapso financeiro à sua gestão sem dados concretos. Em tom firme, Cinthia pediu respeito ao legado de sua administração e disse que tais ataques minam a confiança da população. A tensão entre as duas evidencia, segundo fontes, uma disputa de poder por influência sobre a narrativa da gestão e controle dos espaços políticos na Prefeitura.
Ruptura, auditorias e nova orientação de governo
Com a iminente posse do vice-prefeito, fontes da Prefeitura indicam que haverá uma reestruturação completa na área de comunicação. A tendência é de anulação da atual licitação de publicidade, realização de auditoria nos contratos vigentes e revisão de todas as nomeações ligadas ao núcleo de Eduardo Siqueira. O objetivo declarado é restaurar a credibilidade institucional e reestabelecer parâmetros técnicos para as ações do governo.
Eventos considerados de alta visibilidade, como o carnaval de rua, também estão sob revisão. A nova gestão deve adotar uma linha menos personalista, com foco em políticas públicas estruturantes e menor exposição de agentes políticos em canais oficiais.
No centro da transição está o desafio de reconstruir a imagem de uma administração marcada por redes familiares, informalidade decisória e interferências externas. A prisão de Eduardo Siqueira Campos não apenas desorganizou o núcleo político da capital, mas colocou em xeque o modelo de governança que se consolidava desde o início do ano.
Embora o silêncio institucional ainda predomine, a leitura nos bastidores é unânime: a era Siqueira chegou ao fim, e a partir de agora, Pastor Carlos Eduardo terá que equilibrar fé, técnica e política para reestruturar uma gestão marcada por conflitos e pela crise.
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