Convocação mal articulada, briga interna e avanço estratégico do clã Dimas reconfiguram o mapa político do Tocantins para 2026
A convocação da convenção do PSDB para discutir a incorporação do Podemos, sem diálogo prévio com a cúpula da sigla a ser absorvida, acendeu um alerta no cenário político do Tocantins. O movimento, classificado como “barbeiragem política” por lideranças locais, provocou desgaste interno e empurrou a ex-prefeita de Palmas, Cinthia Ribeiro, para fora do eixo de articulação tucana.
Fontes próximas ao diretório estadual do PSDB afirmam que o episódio expôs a fragilidade do partido no estado e consolidou um racha já em curso entre o grupo de Cinthia e a direção atual. Sem citar diretamente o governador, a operação interna foi percebida como uma tentativa de silenciar divergências e forçar um alinhamento que não encontra mais respaldo em parte da base tucana.
Afastamento estratégico
A ex-prefeita de Palmas tem evitado pronunciamentos públicos sobre o episódio, mas aliados confirmam que ela se sente isolada na legenda. O mal-estar com o PSDB se soma ao atrito crescente com o atual prefeito da capital, Eduardo Siqueira Campos (Podemos), que, em gesto político recente, revogou 82 nomeações feitas por Cinthia durante sua gestão. A anulação das indicações foi interpretada por seu grupo como uma ruptura definitiva com a máquina local.
Sem espaço nas duas pontas — nem no PSDB, nem na atual gestão de Palmas — Cinthia Ribeiro avalia deixar a legenda. Interlocutores próximos admitem que há conversas com outras siglas, incluindo partidos de centro com presença nacional e espaço livre no estado. A desfiliação, caso ocorra, deve arrastar consigo figuras como Eduardo Mantoan e o deputado estadual Júnior Geo, que compartilham da insatisfação com os rumos da legenda.
Ascensão do Podemos e força do clã Dimas
Enquanto o PSDB se desorganiza, o Podemos se estrutura silenciosamente como uma alternativa viável à direita. A legenda é atualmente presidida no estado pelo deputado federal Tiago Dimas, filho do ex-prefeito de Araguaína Ronaldo Dimas — que deve oficializar sua filiação ao partido nos próximos meses.
A presença de Tiago no comando da sigla é estratégica. Desde sua ascensão, ele tem conduzido articulações com prefeitos do interior e lideranças da capital, preparando o terreno para que o pai seja lançado como nome competitivo para 2026. A articulação inclui aproximação com a senadora Professora Dorinha (União Brasil), Laurez Moreira e outros quadros moderados do campo conservador.
Internamente, o Podemos descarta fusões ou incorporações, pelo menos neste momento, e trabalha para construir candidatura própria, com apoio de prefeitos e parlamentares. A avaliação do partido é de que há espaço aberto no estado para um projeto alternativo que una eficiência administrativa e renovação do discurso político.
2026 no radar
Com a provável saída de Cinthia do PSDB e o avanço do grupo Dimas no Podemos, o cenário para a eleição de 2026 começa a ganhar contornos mais claros. Enquanto o PSDB perde protagonismo e enfrenta esvaziamento interno, o Podemos ganha tração como legenda majoritária e caminha para consolidar um palanque forte.
A disputa, no entanto, ainda depende de fatores externos, como alianças federais, o desempenho do governo estadual nos próximos meses e o movimento de outras forças políticas — como MDB, União Brasil e Republicanos — no estado.
Nos bastidores, a leitura predominante é de que a chamada “incorporação sem diálogo” pode ter sido o divisor de águas que selou o esvaziamento político do PSDB no Tocantins. E, ao mesmo tempo, a chave para a ascensão de um novo polo conservador sob a liderança de Ronaldo Dimas e seu grupo.
Próximos passos
A reportagem do Diário Tocantinense apurou que Cinthia deve definir sua permanência ou não no PSDB até o segundo semestre. Já o Podemos trabalha para anunciar oficialmente a filiação de Ronaldo Dimas em um evento nacional, com presença da executiva e apoio da bancada federal.
O cenário, que até poucos meses atrás era marcado pela pulverização e inércia, agora se reorganiza em torno de blocos mais definidos. De um lado, o PSDB tenta sobreviver à própria inabilidade. De outro, o Podemos avança com método, herança política e discurso claro.
Se os ventos da política não mudarem de direção, é possível que, pela primeira vez em muitos anos, o PSDB chegue a uma eleição majoritária no Tocantins sem protagonismo — e com suas lideranças buscando abrigo em outras casas.
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