Roer as unhas é um hábito comum, muitas vezes minimizado pela sociedade. Porém, uma nova pesquisa publicada pelo Journal of Clinical Psychology and Dermatology revela que essa prática vai muito além da estética ou do nervosismo momentâneo: ela pode representar um risco à saúde geral do indivíduo.
Estima-se que cerca de 30% da população mundial roa as unhas com frequência, sendo mais comum em crianças, adolescentes e adultos jovens. A frequência e a intensidade do hábito são associadas a quadros de ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e até compulsões alimentares.
Risco invisível: infecções e bactérias resistentes
Segundo o dermatologista Dr. Eduardo Simões, a boca é um dos ambientes mais contaminados do corpo humano.
“Ao levar as unhas à boca, o paciente não só expõe a mucosa oral a micro-organismos presentes nas mãos, como também transporta bactérias orais para lesões causadas na base da unha”, afirma.
Estudos mostraram a presença de bactérias como E. coli, Staphylococcus aureus e Klebsiella pneumoniae em amostras coletadas sob as unhas de roedores crônicos. Esses patógenos são resistentes a antibióticos e podem causar infecções intestinais, respiratórias e até septicemia em casos graves.
Impacto na digestão: um elo subestimado
Outra descoberta relevante do estudo é a ligação entre onicofagia (nome clínico do hábito) e distúrbios digestivos. Fragmentos de unha podem ser engolidos acidentalmente e, embora geralmente sejam expelidos sem consequências, há relatos médicos de inflamações gástricas, dores abdominais e obstruções intestinais leves causadas por esse comportamento compulsivo.
A gastroenterologista Dra. Lorena Tavares ressalta:
“Casos de inflamação gástrica têm sido relatados entre pacientes com histórico de roer unhas severamente. Não é comum, mas merece atenção clínica.”
Sinais de alerta: quando o hábito exige intervenção médica
Embora socialmente tolerado, o ato de roer unhas persistente, especialmente quando associado a sangramentos, deformações ou feridas abertas, pode ser um sinal clínico de sofrimento psíquico. Psicólogos associam o hábito ao ciclo de ansiedade e autossabotagem.
O psicólogo clínico Dr. Marcelo Guimarães explica:
“Roer unhas é uma manifestação física de uma tentativa de autorregulação emocional. Em muitos casos, o paciente sequer percebe que está fazendo isso durante picos de ansiedade.”
O que fazer? Estratégias de prevenção e tratamento
O tratamento da onicofagia passa por uma abordagem multiprofissional:
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Psicoterapia: Técnicas de TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental) são eficazes no controle de impulsos.
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Produtos tópicos amargos: Loções e esmaltes específicos ajudam a desencorajar o comportamento.
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Manicure regular: Manter unhas cuidadas e bem feitas pode diminuir a compulsão.
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Uso de substitutos comportamentais: Bolinhas antiestresse ou exercícios respiratórios em momentos de tensão.
Conclusão
Roer unhas não é apenas um vício estético. Trata-se de um sinal que pode revelar muito sobre a saúde emocional e física de uma pessoa. Identificar o hábito e buscar ajuda médica é o primeiro passo para uma vida mais saudável, segura e equilibrada.
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