O uso de cetamina por Elon Musk, bilionário e CEO da Tesla e da SpaceX, voltou a provocar discussões no meio médico e regulatório sobre os limites entre a aplicação terapêutica da substância e os riscos de seu uso recreativo. A repercussão do caso ganhou força após reportagens apontarem que Musk faria uso frequente do anestésico, inclusive fora de ambientes médicos.
A cetamina é uma substância regulamentada no Brasil e em diversos países, indicada, sob prescrição e em ambiente controlado, para casos graves de depressão resistente a tratamentos convencionais. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) permite seu uso exclusivamente hospitalar, mediante receita médica de controle especial. A aplicação é feita por via intravenosa ou intramuscular, com rigoroso monitoramento dos efeitos colaterais.
Em nota à reportagem, a Anvisa reafirmou que a cetamina está incluída na lista de substâncias controladas e que o uso não terapêutico ou a comercialização fora das normas legais é crime previsto na Lei de Drogas, com penas que podem chegar a 15 anos de prisão.
Para o psiquiatra Rodrigo Monteiro, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), a utilização terapêutica da cetamina representa um avanço no tratamento de transtornos psiquiátricos, mas requer cautela. “O uso contínuo e não supervisionado pode causar dependência, além de provocar efeitos adversos graves, como lesões no trato urinário e quadros psicóticos”, explica.
Entre os efeitos colaterais mais comuns, especialistas citam aumento da pressão arterial, taquicardia, confusão mental e, em casos extremos, falência renal. Estudos indicam que o uso recreativo da substância, cada vez mais comum em festas e ambientes informais, potencializa esses riscos. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Estudos sobre Álcool e Outras Drogas (Abead), o consumo recreativo da cetamina cresceu 25% no país nos últimos três anos, impulsionado pela popularização do “K”, como é chamada entre usuários.
Nos Estados Unidos, o uso terapêutico da cetamina é regulamentado, mas relatos da imprensa internacional sugerem que Musk pode fazer uso recorrente da substância, inclusive associado a outras drogas como ecstasy e cogumelos alucinógenos. A possibilidade de uso recreativo acendeu o alerta entre especialistas.
“Quando se trata de figuras públicas como Musk, há um risco de glamourização do uso de substâncias potencialmente perigosas. Isso pode impactar negativamente políticas públicas e campanhas de prevenção”, avalia a neurologista Mariana Ferreira, professora da Universidade Federal de Goiás (UFG).
A reportagem solicitou posicionamento às sociedades médicas norte-americanas e à equipe de Elon Musk, mas não obteve retorno até a publicação.
O episódio reacende o debate global sobre o uso seguro e ético de substâncias psicoativas com potencial terapêutico, mas também com riscos significativos à saúde pública. O caso reforça a necessidade de regulamentação clara, fiscalização rigorosa e campanhas de conscientização que esclareçam a diferença entre o uso médico supervisionado e o consumo recreativo
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