Centenas de fiéis peregrinam durante 23 km em agradecimento às graças recebidas pelo Senhor do Bonfim

Da Redação

Sob o calor do dia e o vento frio da madrugada, típicos do agosto tocantinense, os passos dados às margens da BR 010 levam a um único caminho. Guiados pela fé e a religiosidade, centenas de fiéis peregrinam durante 23 km em agradecimento às graças recebidas pelo Senhor do Bonfim.

 Iniciada no dia 6 de agosto, a Romaria do Senhor do Bonfim reuniu milhares de pessoas na maior peregrinação religiosa do Tocantins, que se encerrou nesta segunda-feira, 16. Ao todo são 23 quilômetros percorridos entre a cidade de Natividade e o povoado do Senhor do Bonfim. Durante a caminhada, relatos de milagres e graças atribuídas ao Senhor do Bonfim formam uma grande colcha de retalhos de fé, religiosidade, história e cultura.

Com mais de 200 anos de tradição, o Festejo do Senhor do Bonfim teve início na cultura sertaneja, após um vaqueiro encontrar a imagem em cima de uma toco, levá-la para a cidade de Natividade e, misteriosamente, a peça retornar ao lugar onde hoje está o Santuário do Senhor do Bonfim, que no ano de 2019 concentrou mais de 500 mil pessoas durante os 10 dias de celebrações.

 Em um ano ainda atípico, em que fiéis tiveram que adotar medidas de prevenção contra a Covid-19, a romaria foi marcada pelas inúmeras histórias de quem superou a infecção pelo novo coronavírus entre outras doenças e graças alcançadas. Responsável pelo santuário do Senhor do Bonfim, o padre Leomar Sousa afirmou que a romaria é um momento de fé, de união entre todos os tocantinenses. "Um encontro com o nosso Deus em que os testemunhos da sua obra são exaltados pelos fiéis”, declarou.

 A data da romaria está presente na vida de milhares de tocantinenses, um deles da aposentada Diva Carvalho de Araújo, de Santa Rosa do Tocantins, que frequenta o Santuário do Bonfim há mais de 89 anos, acampando em frente à casa dos padres. Dona Rosa, como é conhecida, chegou ao santuário pela primeira vez, levada pelos pais como o pagamento de uma promessa. “Todos os anos agradeço ao Senhor do Bonfim pelas bênçãos. Foram muitos milagres recebidos durante a minha vida, tanto para mim como para os meus familiares e nosso dever e vir agradecer”, conta ao buscar na memória as experiências vividas naquele lugar.

“Uma vez, quando saímos de Santa Rosa, uma das carroças deu problema, mas pedimos a intercessão e chegamos aqui em paz. Quando 'arranchamos' e colocamos a carroça no lugar a roda caiu, pois, o eixo havia se perdido. Todos se perguntaram como andamos mais de cinco léguas assim, mas eu sabia ser pelas graças do Senhor do Bonfim”, completa com uma expressão de alegria que evidencia as marcas deixadas pelo tempo.

Unidos pela devoção ao Senhor do Bonfim, o casal José Vale Formiga e Domingas Maria Martins, frequentam o santuário há quatro décadas. Moradores de Porto Nacional, o primeiro taxista da cidade, Pizim do Táxi, não deixou de ir à romaria, mesmo estando doente e à espera de uma cirurgia no coração, aos 71 anos. “Ele frequenta o Bonfim há 40 anos, comigo são 39. Meu marido estava acamado, mas não pode deixar de vir ao Bonfim. Hoje estamos aqui para pedir as bênçãos e agradecer. Ele precisa passar por uma cirurgia e esperamos que o senhor do Bonfim nos ilumine para dar tudo certo. Já passamos por outras provações, eu tive um AVC fiquei um mês acamada também, mas graças a Deus, o Senhor do Bonfim sempre esteve conosco e nunca nos desamparou”, destaca a servidora pública, Domingas Maria Martins, de 61 anos.

 A fé e a religiosidade no Bonfim estão inerentes à cultura musical tocantinense, dos cânticos entoados pelos peregrinos durante a caminhada aos louvores que ecoam no santuário. Recepcionando os devotos ao som do saxofone, o jovem músico Marcelo Pereira, de 24 anos, destaca que a tradição do evento é repassada de geração em geração, como com “Muitos fiéis veem e querem homenagear o Bonfim por meio da música. Essa é uma manifestação única no Estado e reúne milhares de pessoas na fé de dias melhores”, completa o músico.

 A maior manifestação religiosa do Tocantins, a Romaria do Senhor do Bonfim conta com o apoio do Governo do Estado do Tocantins. Para o presidente da Agência do Desenvolvimento do Turismo, Cultura e Economia Criativa (Adetuc), que caminhou até o santuário acompanhando o Governador Mauro Carlesse e a comitiva de secretários, o Senhor do Bonfim é uma das tradições mais emblemáticas do Tocantins. “Temos aqui um rito secular que conta a história do nosso povo e a nossa relação com a fé. Hoje, após um ano sem a manifestação, estamos voltando a nos encontrar neste lugar sagrado para renovar a nossa fé no Senhor do Bonfim”, afirmou Jairo Mariano.

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