O começo da história foi como muitas notícias policiais e foi mostrado um vídeo da mulher levando um homem morto a uma agência bancária para tentar sacar um empréstimo

Redação I Álvaro Vallim

A história de uma mulher que, na semana passada, no Rio de Janeiro, foi flagrada com cadáver do tio tentando tirar um empréstimo numa agência bancária comoveu e movimentou opiniões e julgamentos precipitados em todo o país. Ao buscar mais informações sobre o caso, a Rede Globo, que inicialmente mostrava somente o último ato de uma história triste e que revela uma realidade cruel em todo o Brasil: a de uma população de idosos que cresce rapidamente sem ter quem possa cuidar dessas pessoas.

O começo da história foi como muitas notícias policiais e foi mostrado um vídeo da mulher levando um homem morto a uma agência bancária para tentar sacar um empréstimo. A mulher negra segurava a cabeça do homem e a caneta na mão dele, aparentemente tentando fazer com que ele assinasse o documento. As funcionárias da agência acharam estranho e bizarro e começaram a gravar imagens com celulares, mas as câmeras do sistema de vigilância interno também faziam seu trabalho, como veríamos dias depois com a apuração mais detalhada pela reportagem da Rede Globo.

No primeiro dia, uma matéria comum do JN, com um minuto e pouco. Imagens, entrevista com o delegado, entrevista com pessoas da agência, uma fala de um advogado ou advogada representando a mulher. Começa alí um linchamento público motivada por um fato que foi apenas um ato de uma história começada anos antes.

A reportagem do Fantástico do último domingo, 21, foi buscar o início da história, que começa com um trabalhador do transporte coletivo, que por motivos ainda ignorados, não se aposentou e que morava com familiares, no caso uma sobrinha e filhos. Este trabalhador, um motorista, nunca se casou e não tinha filhos e tinha irmãos que não se comunicavam com ele.

A sobrinha, uma dona de casa, morava numa casa simples e o tio ocupava um dos quartos da casa. No ano passado, conseguiram inscrever o homem no BPC LOAS, um benefício concedido a pessoas com mais de 65 anos ou com deficiência que não tenham outra condição de renda. E era com base neste benefício que o homem fez a solicitação do tal empréstimo, conforme informações de outros parentes mostrados na matéria do Fantástico.

O homem andou internado e quem cuidava era sempre a sobrinha, mas segundo relatos dos parentes a situação dele ficou mais debilitada nos últimos tempos e ele não conseguia mais subir as escadas de acesso à casa já citada. Então, ele estava dormindo numa garagem em situação precária, o que pode ter contribuído para o agravamento da situação de sua saúde.

Com tudo isso já dito aqui e mais outros detalhes que mostra a matéria do Fantástico, a Rede Globo tenta corrigir uma injustiça de pré-julgamento feita por muitas pessoas. Vejam que até internação psiquiátrica já tinha sido pedida para a sobrinha, a única que cuidava daquele homem já praticamente sem condições de viver descentemente.

O empréstimo seria para comprar materiais de construção para melhorar as condições de vida dele. A colocação de um piso, um banheiro, fechamento de paredes, colocação de reboco, tinta e tudo mais, incluindo mobílias em melhores condições que o improviso.

Mas esta situação mostra também a realidade de milhares de famílias de baixa renda, nas quais os velhos são cuidados por pessoas sem a mínima condição de saúde. Isso, quando há parentes que se disponham a cuidar, porque há milhares de casos em que os velhos são abandonados pela família.

O senhor Paulo até que tinha a sobrinha Érica e ela mesmo sob condições precárias dela mesma ainda procurou dar os cuidados que o tio precisava. Temos hoje milhares de velhos morando nas ruas sob condições desumanas. Temos hoje milhares de velhos morando em condições precárias e sem os cuidados necessários.

Mas temos também milhares de casos em que o salário do velho é o que sustenta uma família grande e até dá condições para que muitos jovens possam continuar estudando. É preciso que sejam pensadas políticas públicas que prevejam o atendimento e até acolhimento de pessoas na velhice, caso não tenham condições. A população do Brasil está envelhecendo, e rápido.

 

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