Por Ricardo Fernandes | Redação | Diário Tocantinense- Substâncias escondidas em guloseimas estão associadas a surtos psicóticos, risco de esquizofrenia e danos irreversíveis ao cérebro, fígado e rins, segundo especialistas
O consumo de balas e doces coloridos com aparência inofensiva, mas que escondem substâncias alucinógenas como LSD sintético e psilocibina, tem gerado um cenário alarmante de intoxicação e danos neurológicos entre adolescentes brasileiros. Popularizados como “doces mágicos” ou “balas psicodélicas”, esses produtos, vendidos de forma ilegal em festas, escolas e até pela internet, já causaram mais de 500 internações em 2024, de acordo com dados do DATASUS — um aumento de 120% em relação ao ano anterior.
A Polícia Federal, em relatório de março de 2025, revelou que cerca de 74% dos produtos apreendidos continham substâncias como LSD sintético ou psilocibina, derivada de cogumelos alucinógenos. O consumo, muitas vezes recreativo ou acidental, tem desencadeado efeitos devastadores no organismo, principalmente em cérebros em formação.
Metais pesados e desnutrição entre os efeitos colaterais
A professora de Nutrição da Estácio, Arissa Felipe Borges, destaca que além dos efeitos alucinógenos, os “doces mágicos” provocam sérios danos ao sistema digestivo e nutricional. “A psilocibina interfere na absorção de nutrientes e pode suprimir o apetite por longos períodos, levando à desnutrição”, afirma. Já o LSD atua sobre a serotonina, afetando o ciclo de fome e saciedade de forma desregulada.
Arissa alerta ainda para os riscos ocultos na fabricação clandestina dos produtos. “Encontramos metais como chumbo e cádmio em diversas amostras. Esses metais são altamente tóxicos e causam danos irreversíveis aos rins e ao fígado ao se acumularem no organismo.”
Efeitos neurológicos permanentes e risco de morte
A neurologista Fabíola Rachid Malfetano, professora do IDOMED, reforça que as consequências podem ser ainda mais graves. “Essas substâncias agem diretamente no sistema nervoso central e, em adolescentes, podem desencadear crises psicóticas, esquizofrenia e transtornos permanentes, como o Transtorno Persistente de Percepção Alucinógena, que causa flashbacks alucinatórios mesmo meses após o consumo.”
Casos extremos incluem jovens que sofreram surtos graves e se jogaram de locais altos durante crises alucinatórias. “Não existe dose segura. O perigo é real e iminente, pois a concentração dessas drogas varia muito e os consumidores não têm noção do que estão ingerindo.”
Educação, prevenção e legislação: o tripé do combate
A médica defende a urgência de campanhas educativas e reforço nas fiscalizações. “Pais, educadores e jovens precisam estar atentos. Muitos adolescentes consomem esses doces sem saber do que se trata, enganados por colegas ou vídeos nas redes sociais”, afirma.
No Congresso Nacional, tramita o Projeto de Lei 1456/2025, que prevê penas mais rigorosas para quem fabricar ou vender alimentos contendo drogas alucinógenas. Além da repressão, Fabíola pede políticas públicas permanentes de prevenção: “A repressão precisa vir acompanhada de informação clara, acessível e contínua. Estamos lidando com substâncias que podem arruinar vidas inteiras.”
Conclusão
Em meio à crescente onda de intoxicações, especialistas reiteram que o combate aos “doces mágicos” deve ir além da apreensão: passa pela educação nas escolas, fiscalização sanitária rigorosa e, principalmente, diálogo com os jovens. O alerta está lançado — e não é apenas sobre doces, mas sobre vidas em risco.
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