Com 400 novos casos por ano no Brasil, o retinoblastoma afeta principalmente crianças até 5 anos. Especialistas alertam para a importância de exames regulares e identificação de sinais como leucocoria e estrabismo.

Redação

 

O retinoblastoma, câncer ocular mais comum em crianças, afeta cerca de 400 novos pacientes anualmente no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde. Trata-se de um tumor que se origina na retina e que, apesar de raro, corresponde a aproximadamente 3% a 4% dos cânceres infantis. Com maior prevalência em crianças menores de cinco anos, o diagnóstico precoce é fundamental para o sucesso do tratamento e preservação da visão.

Características e Diagnóstico

O retinoblastoma pode ocorrer de forma hereditária ou esporádica, sendo que aproximadamente 40% dos casos são de origem genética, com mutações no gene RB1. “Nos casos hereditários, a criança já nasce com uma mutação em um dos genes que deveria controlar o crescimento das células na retina. Se houver uma segunda mutação, o tumor pode se desenvolver em ambos os olhos”, explica a oftalmologista e oncologista ocular Ana Paula Santos. Além disso, a doença pode ser bilateral (afeta ambos os olhos) ou unilateral, com manifestações diferentes conforme a origem do problema.

Os sinais mais comuns do retinoblastoma incluem leucocoria, um reflexo branco na pupila que pode ser percebido em fotos com flash, e estrabismo, caracterizado por desalinhamento dos olhos. Outros sintomas, como aumento do tamanho da pupila, vermelhidão persistente e perda de visão, também podem indicar a presença do tumor. Segundo a Dra. Santos, “a leucocoria, também conhecida como reflexo do olho de gato, é o sinal mais comum. Quando detectado cedo, o tratamento pode preservar a visão e, em muitos casos, salvar a vida do paciente”.

Tratamento e Prognóstico

O tratamento para retinoblastoma varia de acordo com a extensão e o estágio da doença. Em tumores pequenos, o uso de técnicas como crioterapia (aplicação de frio intenso para destruir as células tumorais) e termoterapia (uso de calor para destruir o tumor) é bastante eficaz. Já em casos mais avançados, a quimioterapia intra-arterial, que direciona o medicamento diretamente para o tumor, tem se mostrado uma opção promissora, reduzindo a necessidade de radioterapia e cirurgias invasivas.

“Nos estágios iniciais, a taxa de cura ultrapassa os 90%, especialmente quando o tumor é detectado antes de se espalhar para outras partes do corpo”, ressalta o Dr. Henrique Rocha, presidente da Sociedade Goiana de Oftalmologia. O especialista também destaca a importância do Teste do Reflexo Vermelho, realizado em recém-nascidos, para detectar precocemente o retinoblastoma. “Este exame simples e rápido pode identificar alterações oculares, permitindo que o tratamento seja iniciado o mais rápido possível”, explica.

No entanto, o diagnóstico tardio ainda é um desafio em muitos países de baixa e média renda, onde a doença muitas vezes é detectada em estágios avançados. De acordo com um estudo da Harvard Medical School, em países de baixa renda, quase 50% dos casos são diagnosticados com doença extraocular, quando o câncer já se espalhou para tecidos ao redor do olho ou outras partes do corpo, enquanto nos países de alta renda, esse percentual é de apenas 0,3%. Esse atraso no diagnóstico é associado a um pior prognóstico e maior mortalidade, evidenciando a necessidade de programas de conscientização e acesso a cuidados especializados para reduzir a morbidade e mortalidade relacionadas ao retinoblastoma.

Casos em destaque e conscientização

O retinoblastoma ganhou atenção da mídia brasileira em 2022, quando a filha do jornalista Tiago Leifert e da apresentadora Daiana Garbin foi diagnosticada com a doença aos oito meses de idade. A partir desse episódio, o casal iniciou uma campanha para conscientizar os pais sobre a importância de se atentar aos sinais da doença e buscar atendimento médico ao menor sinal de alteração ocular em crianças.

“Queremos que os pais saibam que o diagnóstico precoce pode salvar vidas e preservar a visão. Muitas vezes, é uma questão de prestar atenção a detalhes que podem parecer pequenos, como um brilho estranho no olho ou o estrabismo. É fundamental que essas observações sejam compartilhadas com o pediatra e, se necessário, com um oftalmologista”, enfatiza Garbin, que desde então tem se engajado em divulgar informações sobre o retinoblastoma em suas redes sociais.

Avanços na pesquisa e desafios

A pesquisa sobre o retinoblastoma tem avançado significativamente, com novos tratamentos que combinam terapias locais e sistêmicas para melhorar as taxas de cura e reduzir efeitos colaterais. Em alguns casos, o uso de terapia genética está sendo explorado como uma forma de tratar a causa subjacente do câncer, especialmente em casos hereditários. A detecção de mutações no gene RB1 é um dos alvos desses estudos, que buscam não apenas melhorar o tratamento, mas também fornecer informações para a prevenção em famílias com histórico da doença.

No entanto, desafios ainda persistem, especialmente em países em desenvolvimento, onde o acesso a diagnósticos especializados e tratamentos avançados é limitado. A disparidade no diagnóstico e tratamento entre países de diferentes níveis de renda é um problema de saúde global que precisa ser abordado com políticas públicas e cooperação internacional para garantir que todas as crianças tenham acesso ao melhor cuidado possível.

Em conclusão, o retinoblastoma, apesar de raro, é uma doença grave que requer atenção e conhecimento. O diagnóstico precoce, a conscientização dos pais e o acesso a tratamentos modernos são essenciais para melhorar as perspectivas de cura e qualidade de vida das crianças afetadas.

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