Na quarta-feira (26), a nação ficou perplexa ao assistir a um levante liderado pelo ex-comandante do Exército, Juan José Zúñiga, e pelo ex-comandante da Marinha, Juan Arnez Salvador

Redação I Thiago Alonso

A Bolívia atravessa um período de intensa crise política, social e econômica que culminou em uma dramática tentativa de golpe de Estado contra o presidente Luis Arce.

Na quarta-feira (26), a nação ficou perplexa ao assistir a um levante liderado pelo ex-comandante do Exército, Juan José Zúñiga, e pelo ex-comandante da Marinha, Juan Arnez Salvador.

O movimento golpista envolveu a ocupação da praça principal de La Paz com veículos blindados e uma tentativa de invasão ao Palácio Presidencial, que terminou com a prisão dos líderes conspiradores e outros envolvidos. Acusados de terrorismo e levante armado, os ex-comandantes enfrentam penas que podem chegar a 20 anos de prisão.

O plano para derrubar Arce, segundo o ministro do Interior Eduardo del Castillo, começou a ser orquestrado em maio, envolvendo militares da ativa e da reserva, além de civis. Entre os detidos está Aníbal Aguilar Gómez, apontado como o "cérebro" da operação. Até agora, 17 pessoas foram presas em conexão com o golpe frustrado, incluindo Zúñiga e Arnez.

No auge da tentativa de golpe, as forças de choque foram rapidamente mobilizadas para defender o Palácio Presidencial. Em um confronto direto com Zúñiga, Arce ordenou que o general retornasse aos quartéis, mas Zúñiga inicialmente recusou, permanecendo no local por mais de três horas até que Arce empossasse um novo comando militar.

Este incidente ocorre em um momento de severa crise na Bolívia, marcada pela escassez de combustível e divisas, que desencadeou mobilizações sindicais e protestos populares. Arce atribuiu a responsabilidade pelos problemas ao seu ex-aliado e agora adversário político, Evo Morales. Ambos são membros do Movimento ao Socialismo (MAS), partido atualmente dividido em uma disputa pela liderança nas eleições presidenciais do próximo ano.

A demissão de Zúñiga, um dia antes do golpe, por ameaçar prender Morales caso ele insistisse em concorrer à presidência, aumentou ainda mais as tensões. Morales, enfrentando uma proibição constitucional de se candidatar novamente, não desistiu de suas ambições presidenciais. Arce, por sua vez, refutou veementemente as alegações de Zúñiga de que teria conspirado para um "autogolpe" com o objetivo de aumentar sua popularidade.

A reação da população boliviana à tentativa de golpe foi de repúdio generalizado. Em El Alto, um bastião do governo, manifestantes tomaram as ruas em apoio a Arce, queimando pneus e prometendo impedir qualquer golpe de Estado. No entanto, a resposta militar foi dura, com o uso de gás lacrimogêneo e projéteis, resultando em pelo menos oito civis feridos, conforme relatado pelo Ministério da Saúde.

A situação crítica na Bolívia é um reflexo de um descontentamento profundo entre amplos setores da sociedade. A crise econômica, exacerbada pela queda na produção de gás e pela falta de investimentos, continua a alimentar a insatisfação popular. Gustavo Flores-Macías, da Universidade de Cornell, observou que o golpe fracassado é sintomático das tensões subjacentes no país.

Além das divisões internas no MAS, a tentativa de golpe expôs a fragilidade das instituições bolivianas após quase duas décadas de governo do Movimento ao Socialismo. O ex-presidente Jorge Quiroga classificou o golpe como uma "opereta", destacando a deterioração institucional, enquanto Carlos Mesa, também ex-presidente, criticou a mobilização militar, chamando-a de uma farsa.

Em meio a este clima de instabilidade, a resposta de Arce, incluindo a mobilização de tropas leais e o apoio popular, foi crucial para manter a ordem. Especialistas acreditam que o episódio poderá levar a uma reconfiguração política no país, possivelmente resultando em novas alianças dentro do MAS e a inclusão de outras correntes políticas e movimentos populares para fortalecer a democracia e prevenir futuros golpes. 

(Com informações AFP, EFE, Lusa)

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