Quase 100 denúncias de irregularidades eleitorais foram registradas pelo aplicativo Pardal desde o início da campanha, enquanto escândalos de corrupção envolvendo o governador Wanderlei Barbosa e outros membros de outros poderes

Redação

As campanhas eleitorais no Tocantins em 2024 estão marcadas por uma onda de denuncismo, com quase 100 denúncias de irregularidades registradas até setembro. O uso do aplicativo Pardal, criado para permitir a denúncia de práticas eleitorais inadequadas, tem sido um dos principais canais utilizados pela população para relatar suspeitas de irregularidades. O Tribunal Regional Eleitoral (TRE-TO) destacou que, desde o início oficial da campanha, em 16 de agosto, foram registradas 98 denúncias, sendo 50 envolvendo candidatos a prefeito e 32 candidatos a vereador. As cidades com maior número de denúncias incluem Cariri (18), Colinas do Tocantins (13) e Filadélfia (12), enquanto Palmas e Araguaína, os dois maiores municípios do estado, registraram apenas sete e quatro denúncias, respectivamente.

Para o cientista político Felipe Araújo, especialista em processos eleitorais, o aumento no número de denúncias pode ser visto como um reflexo de uma maior conscientização e participação popular no processo eleitoral. "O uso de ferramentas como o aplicativo Pardal tem possibilitado uma fiscalização mais ativa por parte dos eleitores. Isso é positivo, mas também demonstra uma insatisfação crescente com as práticas políticas tradicionais e a percepção de que ainda há muito a melhorar no sistema", comenta.

No entanto, a situação no Tocantins vai além do simples aumento de denúncias. As campanhas estão sendo fortemente prejudicadas por sucessivos escândalos de corrupção, que têm minado a confiança do eleitorado e desviado o foco dos debates políticos para a crise ética vivida no estado. Três operações da Polícia Federal foram realizadas nas últimas semanas, tendo como alvo o governador Wanderlei Barbosa e diversos membros de sua administração, sob a acusação de desvio de verbas públicas destinadas à compra de cestas básicas durante a pandemia da Covid-19. Segundo a Polícia Federal, o recurso, que deveria ser usado para apoiar a população vulnerável, teria sido desviado para beneficiar aliados políticos e financiar campanhas eleitorais..

Leonora Assunção, cientista social, avalia que a sucessão de escândalos afeta diretamente a participação política da população. "O eleitor se sente desmotivado e desconfiado. A corrupção sistêmica e os escândalos frequentes criam uma sensação de que nada muda, e isso se reflete na apatia e na falta de engajamento nas campanhas eleitorais", explica. Para ela, a presença de denúncias também pode ser utilizada estrategicamente por adversários políticos para desacreditar candidaturas, mesmo que muitas vezes as acusações não se confirmem.

Além disso, há uma preocupação com o impacto desse cenário sobre a legitimidade do processo eleitoral. Manoel Sampaio, especialista em direito eleitoral, afirma que "o excesso de denúncias, quando feito de forma irresponsável, pode criar um clima de instabilidade e até mesmo interferir na isenção do pleito. A Justiça Eleitoral precisa agir com cautela para garantir que as investigações sejam rápidas e imparciais, evitando o uso político das denúncias".

O clima de incerteza e as investigações em andamento têm feito com que muitos eleitores se sintam perdidos e desinteressados no processo eleitoral. "As pessoas estão focando mais nas operações da Polícia Federal e nas denúncias do que nas propostas dos candidatos", comenta Amália Lisboa, analista política. "Isso é perigoso, porque o eleitorado tende a votar mais por impulso ou escolher o que parece menos envolvido em escândalos, sem analisar as propostas e o histórico de cada candidato".

Com a eleição se aproximando, o desafio dos candidatos no Tocantins é reconquistar a confiança do eleitorado e apresentar propostas concretas que possam enfrentar as questões de corrupção e governança que assolam o estado. A transparência e o compromisso com a ética serão essenciais para superar a onda de denuncismo que marca este pleito e reverter o descrédito que se instaurou na política local.

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